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domingo, 27 de dezembro de 2015

Sweet dreams are made of this

Cá estou eu, tirando a poeira do blog, talvez pelo tempo disponível devido às "férias" de fim de ano. Ou porque me deu vontade de escrever...

Outro dia tive um sonho muito estranho. Quem me conhece sabe que sonhos estranhos são minha especialidade, mas esse foi diferente. Posso dizer que foi um dos piores sonhos que já tive. Um pesadelo. Sonhei que um cantor famoso (sei que ele era famoso, mas não lembro seu nome nem por decreto) me chamava para cantar (?!) em uma festa para famosos (??!?!?). 
No sonho eu sabia cantar e lá fomos nós. Eu estava muito feliz por ter a oportunidade de mostrar meu trabalho para as pessoas, e pessoas famosas...

Ao entrar na festa, acabamos nos separando e um dos caras do Casseta e Planeta me puxou de lado pedindo identificação, perguntando o que eu estava fazendo ali. Pensando tratar-se de uma piada, que ele estava ali de "porteiro", fazendo graça com os que entravam, falei que ia cantar e segui em frente, mas ele não parecia muito humorista quando falou alguma coisa do tipo "você, cantando aqui? gorda desse jeito?". Ignorei e segui em frente, procurando meu amigo, mas a cada passo que dava, os olhares iam se voltando para mim, todo mundo me ofendendo e humilhando por causa do meu peso, do meu corpo, "olha essa aí, que ridícula", "quem deixou isso aí entrar", risadas e tudo o mais. Ouvi todo o tipo de grosseria até que comecei a chorar.

Nesse momento alguém me levou para uma sala e prometeu ligar para o tal cantor, para ele vir encontrar comigo e eu só pensava em como iria cantar depois da choradeira (sério, eu não pensei em dar o fora dali o mais rápido possível). Ele me encontrou na tal sala e eu acordei antes da apresentação (ainda bem. Não sei se aguentaria mais humilhação hahahaha).

Esse sonho me fez refletir... É mais ou menos isso que acontece comigo e, imagino eu, com as outras gordas. Quando não ouvimos as ofensas em alto e bom som, sabemos que elas estão lá, nos comentários e atitudes das pessoas que convivem com você e deixam a gordofobia aparecer vez ou outra. "Que ridícula fulana de tal ir à praia de biquini"; "Queria ter essa sua coragem em usar saia"; "Tenho nervoso de gente gorda pelada". Nunca servi para ser apresentada ao amigo solteiro (só ao que tinha tesão por gorda, mas não era homem o suficiente para assumir). Já cheguei uma vez no trabalho e tinha um papel de clínica de emagrecimento em cima da minha mesa. Já fui (des)convidada para trilha com um comentário de "vamos fazer, mas tem subida, e anda muito" (se esse povo soubesse o quanto eu ando, subo escada e o quanto de peso eu aguento...). Poderia continuar por horas...

Cada vez que vejo um depoimento de uma gorda que sofreu algum tipo de abuso (xingamentos, ofensas etc), me vejo no lugar dela, e, cada vez que vejo sua reação respondendo à altura, tenho esperança de quem um dia esse tipo de sonho que eu tive será apenas sonho, sem nenhuma ligação com a realidade.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Jorge

Jorge era do tipo comum. Todos os dias acordava às 6 da manhã e se preparava para mais  uma maratona, que incluía o trabalho em meio período em um escritório, as aulas  de  administração na universidade e aulas de música (diziam que ele tocava bem, mas ensaiar  leva à perfeição). 

E entre relatórios e ensaios estava a igreja. Jorge passava boa parte do seu tempo livre  por lá, decorando hinos, sendo simpático e prestativo com todos, ajudando nos cultos. "É  um bom moço". "Tão diferente da mãe...", diziam algumas senhoras que costumavam passar  mais tempo preparando relatórios sobre a vida alheia do que cultivando seu terreninho no céu. Era de conhecimento (velado) de todos que a mãe de Jorge tinha sido dispensada de  seu último emprego por limpar não só os móveis da casa, mas também as carteiras.

De qualquer modo, ele era do tipo namorado perfeito, futuro marido perfeito. Todas as  mães confiavam cegamente em deixar suas filhas adolescentes irem ao shopping, ao cinema  ou onde quer que fosse com Jorge, que era sempre muito respeitoso, nunca tentava mais do  que um abraço e um beijinho comportado. Afinal, o sexto mandamento era bem claro - e ele  era temente a Deus. 

Porém, o que apenas Deus e algumas poucas moças sabiam era que Jorge tinha sérios  problemas com a sua castidade. Ele simplesmente não conseguia controlá-la. E como tinha  uma imagem a zelar perante o pastor e a comunidade, procurava as mulheres "seculares"  para extravasar seus desejos, digamos, não muito cristãos. Mas não era qualquer uma. Ele  não gostava de prostitutas, mas de mulheres com a mente mais aberta, que achavam, por  exemplo, um golden shower normal e saudável. Ele tinha um namoro santo com uma menina da  igreja enquanto uma mulher do mundo comia seu cu. 

Enfim, um dia aconteceu. Ele conheceu a menina perfeita para se casar: não tão bonita  (para não atrair concorrentes), cultura mediana, tinha prazer em fazer as tarefas do lar,  criada pela mãe para servir o marido. Enfim, a esposa dos sonhos. Não demorou para os  dois se casarem e viverem em um conto de fadas. Todos os dias ela chegava do trabalho  mais cedo para preparar-lhe o jantar, se arrumar e os dois jantavam, liam a Bíblia e  faziam sexo santo, quer dizer, faziam amor antes de dormirem e começarem um novo dia.

Os dois pareciam muito acostumados à rotina, e ele a quebrava com uma velha conhecida,  que sabia da sua vida dupla e achava até graça nisso. Uma vez ela questionou o motivo  dele não fazer inversão ou menàge, ou as coisas que os dois sempre faziam, com a esposa.  Afinal, para essas coisas é preciso o mínimo de confiança. Ele ficou bravo e respondeu  que casamento era uma coisa e escravidão sexual era outra, que não ficava bem beber o  mijo da esposa ou jantar com o cuspe dela no prato. A outra riu e os dois continuaram se  encontrando sempre que um deles desejava.

Um dia a amante sugeriu que fossem a um clube de BDSM, para se inspirarem e, quem sabe,  se exibirem um pouco, coisa que era comum nesses lugares. Ele se animou com a ideia e  inventou em casa que teria uma viagem para outra cidade, para resolver alguns problemas  de uma filial da empresa em que trabalhava. E lá foram os dois, excitados com o que  veriam e fariam naquela noite. Chegando lá, viram muito vinil, chicote, amarras, coleiras  e tapas. No palco, uma mascarada estava, muito à vontade, suspensa e amarrada enquanto  diversos homens e mulheres a chicoteavam, cospiam nela e transavam enquanto a plateia observava atentamente, antes de começarem seus pequenos shows e a ocupar os ambientes do lugar. Diziam que ela era a melhor de todas as que se apresentavam por lá.  Ao final da apresentação, Jorge, cheio de tesão, queria muito ver quem era a mulher que o deixara louco, e foi atrás dela, junto com a amante. Quando ela finalmente tirou a  máscara, Jorge pôde ver que sua esposa, que fez sua mala, lhe preparou o jantar na noite  anterior, leu os Salmos com ele, tinha mais uma qualidade: ser a escrava sexual perfeita.